Foto de divulgação |
Amar sozinho é o auge da resiliência. É se acostumar com a solidão por achar que a companhia do amor que sente é suficiente. Preferir sentir a frustração da falta de companhia do que a tristeza da partida do amor.
É ouvir as músicas que o outro ouve, ver os filmes que ele posta que viu, vasculhar os títulos que ele tem no Skoob. Amar sozinho é não perceber que é exatamente no que você conhece e o outro não que está a riqueza da vida e que dizer “nunca ouvi falar” é uma deixa muito mais instigante para uma conversa. Mas quem ama sozinho não quer estar com o outro para trocar, quer ser o outro para viver. Se moldar sem perceber que molde e forma são diferentes e não iguais.
Quem ama sozinho tem tão pouco, que se apega à quase nada. Amar sozinho é transformar uma mensagem boba num motivo para acreditar, uma noite em declaração de amor. É ler e buscar entrelinhas onde elas não existem, esquecer o discurso e se preocupar em tentar achar nos pronomes escondidos um motivo para se sentir atingido por cada frase.
Criar uma expectativa que excede o bom senso e a sanidade. É saber como o outro vai executar cada movimento em direção ao beijo, mesmo sabendo que ele pode nunca mais acontecer. É sonhar com o tato da ponta dos dedos se arrastando pelo seu corpo e acordar com a frustração dormindo ao lado.
Quem ama sozinho prefere sempre o passado ou o futuro, e nunca o presente. Fica na estação parado vendo o trem passar e não aceita um novo destino nunca, porque pra quem deposita todas as suas esperanças no outro, ele é o caminho. O sonho não é andar lado a lado, é acompanhar o outro onde ele for.
Quando se ama sozinho, é fácil ver no outro a perfeição e fechar os olhos para possibilidades imperfeitas e reais. Porque amar sozinho é acreditar que só existe uma chance de ser feliz. É perder o bilhete da loteria sem saber se ele estava premiado e sofrer mesmo assim.
Amar sozinho é sentir a crueldade de um sentimento que só existe para a plenitude. Amar sozinho é a pior forma de desamar a si mesmo.
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